Título
Manual para identificação e conservação das fisionomias abertas do Cerrado
Descrição
O Cerrado é composto por um mosaico de fisionomias que incluem áreas campestres, savânicas e florestais, abrigando mais de 13.000 espécies de plantas, com altos níveis de endemismo. Dentre essas espécies, cerca de 65% são herbáceas e arbustivas (Amaral et al., 2017; Flora do Brasil 2020). Embora grande parte da diversidade do Cerrado esteja associada às áreas de campos e savanas, historicamente as ações de conservação têm se concentrado nos ambientes florestais. Entretanto, as áreas abertas do Cerrado desempenham um papel crucial como provedoras de serviços ecossistêmicos indispensáveis, como a recarga hídrica (Veldman et al., 2015a; Amaral et al., 2017; Silveira et al., 2020; Pilon et al., 2023).
Diante das enormes perdas de áreas naturais no Cerrado, atualmente com menos de 20% de sua área em bom estado de conservação, torna-se imprescindível intensificar os esforços para a conservação e restauração desses ecossistemas (Strassburg et al., 2017). Para isso, é fundamental reconhecer as diferenças entre áreas conservadas e degradadas, especialmente devido à invasão por espécies de plantas exóticas, que representa um dos maiores obstáculos para a conservação de campos e savanas no Cerrado. Essa invasão ocorre predominantemente por gramíneas africanas e espécies do gênero Pinus, sendo que as gramíneas exóticas configuram o maior desafio global para a conservação e restauração. Atualmente, não há técnicas economicamente viáveis para erradicar essas espécies completamente, o que compromete o processo de recuperação das áreas.
A invasão por gramíneas exóticas não se limita a áreas onde essas espécies foram plantadas para atividades agropecuárias, mas também afeta áreas conservadas próximas. A estratégia de colonização e estabelecimento dessas espécies é altamente eficaz, permitindo que invadam até mesmo áreas extremamente conservadas, desde que estejam próximas a fontes de sementes invasoras. Na prática, observa-se um gradiente entre áreas totalmente conservadas, passando por áreas com algum grau de invasão, até áreas completamente degradadas, onde o Cerrado foi substituído por gramíneas exóticas.
A identificação do estado de conservação pode ser desafiadora, especialmente em áreas dominadas por espécies exóticas, mesmo para especialistas. Adicionalmente, classificações baseadas em imagens de satélite, amplamente utilizadas para fragmentos florestais, ainda apresentam muitas incertezas na diferenciação entre áreas dominadas por gramíneas exóticas e gramíneas nativas. Essas dificuldades impactam diretamente a gestão ambiental, dificultando atividades de fiscalização, emissão de autorizações e diagnósticos precisos para restauração.
Para enfrentar esses desafios, este manual foi desenvolvido com os seguintes objetivos:
Apresentar as áreas abertas do Cerrado e sua importância.
Fornecer um conjunto de características para distinguir entre fisionomias abertas conservadas e degradadas, que sejam fáceis de observar, registrar e medir em campo.
Orientar a classificação das fisionomias do Cerrado de forma geral, por meio de uma chave de identificação que inclui fisionomias em diferentes estágios de regeneração.
Essa abordagem visa tornar as atividades de conservação e restauração mais eficazes no contexto das áreas abertas do Cerrado, garantindo a proteção e recuperação de um dos ecossistemas mais ameaçados e biodiversos do mundo.
Autoria
Ana Carolina Cardoso de Oliveira | Bruna Helena Campos | Camila T. R. Freire | Cássia Beatriz Munhoz | Demétrius Lira-Martins | Franciele Parreira Peixoto | Giselda Durigan | Natashi Pilon | Rafael S. Oliveira | Ricardo Augusto Gorne Viani | Robson Disarz | Zilma Alves Maia
Edição
1
Ano
Páginas
96